segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cortiço e Vila Operária

Com o desenvolvimento econômico no estado de SP no séc. XIX o café e a ferrovia impulsionavam dinâmica e a vida urbana paulista, influenciando na aceleração do processo de industrialização do estado.
Dentro deste contexto surgem as Vilas Ferroviárias, que viabilizam operacionalmente o modo de produção ferroviário, espalhando-se pelo interior de SP.
Precursora dos modelos adotados nas Vilas operárias garantiu o funcionamento do complexo ferroviário paulista 24hs por dia; fixando os trabalhadores nas proximidades do leito ferroviário e de suas oficinas.
As vilas operárias surgiram no Séc. XIX como uma das soluções adotadas para resolver o problema de habitação da classe trabalhadora classificadas em 2 tipos:
• Vilas operárias particulares
• Vilas de empresas

Crescimento populacional, formação das primeiras favelas (cortiços), desemprego, déficit habitacional:

Os imigrantes que haviam chegado atraídos pela cultura cafeeira, com a diminuição do cultivo do café, dirigiram-se as cidades, em busca de emprego nas nascentes indústrias.
Indústrias que haviam começado a surgir graças aos excedentes da produção cafeeira (muitos dos primeiros industriais paulistas eram fazendeiros de café, que buscavam novas aplicações para investir o dinheiro gerado pelas exportações), ampliaram-se em número e necessidade quando começa o declínio da cultura cafeeira.
Despreparada para receber todo o fluxo de pessoa e fornecer habitação para os grandes contingentes que, principalmente nas primeiras décadas do século XX, dirigiam-se as cidades paulistas, passando a ser palco de ploriferação de pestes.
Interessados nas políticas higienistas, em cujas regiões centrais onde se tinha cortiços, e também na melhoria de qualidade de vida dos trabalhadores (que assim poderia produzir mais), algumas iniciativas passaram a ser tomadas pelas empresas privadas e pelos governos, no sentido de construírem-se moradias populares.
A dinâmica de mercado de trabalho exigia moradia barata na capital, para atender esse grande numero de trabalhadores atuando nas fabricas de beneficiamento do café, essa situação se intensifica em 1886 com a chegada dos imigrantes europeus impulsionado pelo primeiro grande salto industrial que o Brasil deu entre 1885 e 1890 Foi em 1886 a 1900 período em que São Paulo que São Paulo tem sua primeira crise habitacional. Com a piora das condições urbanas e acentuando os risco a saúde pública, nos últimos 15 anos do século, houve extraordinário aumento das taxas de ocupação das moradias o número médio de pessoas por prédio passou de 6,27 em 1886 para 11,07 em 1900.
O problema da habitação popular no final do século XIX é concomitante aos primeiros indícios de segregação espacial.
Se a expansão da cidade, e a concentração de habitantes ocasionaram inúmeros problemas, a segregação social do espaço impedia que os diferentes estratos sociais sofressem da mesma maneira os efeitos da crise urbana, garantindo a elite área de uso exclusivo, livre da deterioração além de uma apropriação diferenciada dos investimentos públicos.
Até a década de 1870, não haviam diferenças funcionais de um para as outras na cidade. As residências dos mais abastados e classe média localizavam no próprio triângulo central junto ao comércio e oficinas. Esta reduzia a segregação espacial, pelas reduzidas dimensões da cidade e pelo fato dos dois grandes grupos sociais do velho burgo(os homens livres e os cativos) podiam estar misturados no tecido urbano porque estão inteiramente separados no tecido social (Rolnk, 1986)
Intervenção estatal: medidas higienistas
A de teorização das condições de vida na cidade, provocada pelo afluxo de trabalhadores mal remunerados ou desempregados, pela falta de habitação popular e pela expansão descontrolada da malha urbana, obrigou o poder público a intervir para tentar controlar a produção e o consumo das habitações.
O significado dessa intervenção estatal se dá na primeira República (1889 – 1930), nesta época o estado liberal relutava ao máximo em interferir na esfera privada. Por exemplo: seu papel na regulamentação das leis trabalhistas: duração de jornada, emprego de menores e mulheres, salários, previdência social etc., era quase inexistente, só surgindo timidamente nos anos 20 como reposta as mobilizações operárias do período de 1917 a 1920(Fausto 1977).
1919 – Tratado de Versalhes – obrigam a regulamentar as condições de trabalho liberal – como a Inglaterra, a França e a Alemanha- terem promulgado leis sanitárias, foi fundamental para que o tema não despertasse controvérsias no Brasil.
Poder público ataca em três frentes:
• controle sanitário
• controle de habitações
• legislação e código de postura
Desde a sua origem a medicina social estava ligada à idéia que a cidade é causa de doença devido a desordem médica e social que as caracteriza. Os médicos formularam assim:
• Uma teoria da cidade, exigindo o controle sanitário como poderoso instrumento de normalização da sociedade.
• Epidemias – traziam medo e dizimavam a população (medo da classe alta ser atingida levaram a interferência do governo no espaço publico)

Medidas governamentais para controlar as condições sanitárias e impedir a propagação de epidemias:
1. criação da diretoria de higiene, com poderes de polícia e inspeção sanitária, isto é, podia entrar nos domicílios para controlar a vida, as regras de asseio, higiene e saúde de seus habitantes.
2. promulgação de vasta legislação de controle sanitária e de produção das habitações, com destaque para o código sanitário de 1894

3. participação do estado nas gestões de obras e saneamento e de abastecimento d água e de coleta de esgoto, sobre tudo pela capacitação da Cia Cantareira de Água e Esgoto, e pela criação de comissão de saneamento das várzeas.
Portanto, das medidas contra as duas epidemias de 1893 surgiram três frentes de combate - legislação urbanística, planos de saneamento básico e estratégia de controle sanitário, que são a origem da intervenção estatal no controle da produção dos espaço urbano e da habitação.
- Vilas ferroviárias: precursoras das vilas operárias

Vilas Operárias e Ferroviárias – ambas eram modelo de produção de habitação ou possuíam como característica principal fixar parte da mão de obra nas proximidades do local de trabalho.
Muitas vezes enquanto o discurso das empresas buscava demonstrar o aspecto social de seus empreendimentos habitacionais, na verdade o que realmente interessava eram as formas como aquele capital ali empregado garantia seu retorno, na confecção de produtos industriais e na operacionalidade da empresa.
- Vila ferroviária: relação com a cidade

A ferrovia encontra-se presente na maioria das cidades paulistas por meio de suas realizações, entre as quais estão as vilas destinadas a trabalhadores. Estas, em muitos ideais serviram, elas mesmas como primeiro pólo urbanístico, lançando as bases para a fundação da cidade, determinando-lhes em alguns casos até mesmo o traçado futuro.
A atividade produtora de café, abre os caminhos para o escoamento via linha férrea e assim tem-se uma transformação na sociedade, economia e cultura.
“Ao agregar pessoas no entorno de trechos importantes das linhas (no estado de São Paulo especificamente) essas características fizeram com que a ferrovia e habitação se tornassem elementos intimamente associados”. (Blay,1985)
Cortiços
"Cortiço" que também é denominado como "Habitação Coletiva Precária de Aluguel" é "uma unidade utilizada como moradia coletiva multi-familiar, apresentando, total ou parcialmente as características de:
o Ser constituída por uma ou mais edificações construídas em lote urbano, com ocupação excessiva.
o Ser subdividida em vários cômodos conjugados alugados, sub-alocados ou cedidos
qualquer título, sem proteção da legislação vigente que regula as relações entre proprietários e inquilinos.

ter várias funções exercidas no mesmo cômodo.
o Ter acesso e uso comum dos espaços não edificados, de instalações sanitárias (banheiros, cozinhas e tanques) e de instalações elétricas.
o Ter circulação e infra-estrutura precárias.
o Superlotação de pessoas em geral.
Além de caracterizarem por:
1. má qualidade e impropriedade da construção
2. falta de capacidade e má distribuição dos aposentos(quase sem luz e a necessária ventilação)
3. pela carência de prévio zoneamento do terreno onde se acham construídos
4. finalmente, pelo desprezo das regras de higiene domésticas

Uma casa é de 3m de largura e 5 a 6m de fundo e altura 3 a 3,5m com a capacidade para 4 pessoas.
O investimento nesses alojamentos era altamente rentável em virtude do intenso aproveitamento do terreno e da economia de material possibilitada por sua organização espacial, dá péssima qualidade da habitação edificada e da inexistência do custo da manutenção.
Existem 4 tipos de cortiços:

Hotel Cortiço
trabalhadores desacompanhados; espécie de restaurante, população operária utilizava para dormir;
Casa de Cômodos
prédio independente voltado para a rua, pequena e sem higiene;
Cortiços improvisados
prédio/sobrado convertidos em cortiços (feitos para aluguel);
Cortiço - pátio:
área no interior do quarteirão, péssima qualidade de habitação/edificação
Além disso tem-se um alerta com um tipo de “habitação” operária que carece de séria atenção da autoridade sanitária.
A casinha – um prédio independente virado para a rua ( e apenas considerado cortiço pelo seu destino e espécie de construção pequena e insuficiente para a população que abriga, não oferece garantia alguma pelo que respeita a higiene.
As casinhas são semelhantes as existentes nas vilas operárias. (modelo para trabalhador a cortiços)

Produção privada da habitação operária
As vilas surgem para resolver os problemas de habitação dos trabalhadores , com a legislação cria-se um padrão com diferentes pontos de vistas, todos adequados ao poder público, sanitário e de engenharia, esse padrão é criado para enquadrar a classe operária. O padrão criado nas vilas operárias tem-se tipos diferentes de vilas, mas com padrão habitacional muito semelhante, padrão habitacional mais adequado, (moralidade, bom comportamento)
Classificam-se em 2 tipos:
- Vilas operárias particulares – Um loteador que possui um terreno e constrói para lugar : produção privada
- Vilas de empresa - Vilas que são construídas especificamente para abrigar funcionários (mas eles pagavam aluguel), tinham lucro em cima do aluguel pago pelos operários e poder de controle sobre os habitantes da vila (controle moral e social).









Vila da Fabrica Matarazzo - SP

Foto: Ana Rita Corrêa












Vila Fabrica dos Matarazzo - SP

Foto: Ana Rita Corrêa






Vila Fabrica dos Matarazzo -SP

Foto: Ana Rita Corrêa












Vila Fabrica dos Matarazzo - SP

Foto: Ana Rita Corrêa




Vila Fabrica dos Matarazzo
Foto: Ana Rita Corrêa



Vila Fabrica dos Matarazzo
Foto: Ana Rita Corrêa















Vila Fabrica dos Matarazzo - SP

Fonte: Ana Rita Corrêa








Vila dos Ingleses

Foto: Ana Rita Corrêa


Vila dos Ingleses

Foto: Ana Rita Corrêa


Vila dos Ingleses
Foto: Ana Rita Corrêa














2 comentários:

  1. gostei pode me passar referencias em comome aprofundar no assunto?

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  2. Ana, gostei muito do seu post ainda mais porque estou a estudar as vilas operárias em Lisboa e procuro um parceiro em SP para este assunto. Estarias interessada? Tens algumas referências que possas disponibilizar?

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